Da coreia até a cadeira de presidente do Inter: a trajetória de Alessandro Barcellos
Publicado em 28/03/2025 por Rádio Cidade FM
Dirigente conta a história de como ele invadiu o campo para ter um pedaço da rede da goleira do Beira-Rio em 1991, que acabou sendo usada por Roger na preleção da final do Gauchão deste ano
O Inter é uma entidade com origens populares e orgulha-se disso. Porém, ironicamente, os seus principais dirigentes, normalmente, não são. O direito de postular o cargo mais importante do clube, em geral, é uma prerrogativa concedida a quem tem muito dinheiro ou, em alguns casos, passado de geração em geração, como se fosse um direito aristocrático. Não é o caso de Alessandro Barcellos. O presidente do Inter há quatro anos é filho de uma família de classe média baixa, frequentava a antiga Coreia do Beira-Rio e chegou ao cargo após uma série de coincidências.A origem mais modesta do dirigente veio à tona quando foi divulgado o vídeo com os bastidores da conquista do título gaúcho. Na preleção feita antes do jogo no Beira-Rio, Roger Machado tirou do bolso um pedaço de rede da final do Estadual de 1991, também vencido pelo Colorado, que era guardado como relíquia pelo presidente. Ergueu o emaranhado de cordões diante dos jogadores e bradou: “Para mim, isso vale a história. É isso que eu quero! Eu quero um pedaço dessa rede no final do jogo! Não interessa o tamanho da conquista, ela é grande para a gente.”De fato, a rede era um troféu para Alessandro Barcellos. Ele estava na Coreia naquele 15 de dezembro de 1991, quando o Inter empatou com o Grêmio por 0 a 0 e faturou o título gaúcho, interrompendo uma sequência de seis conquistas do rival. “Algumas pessoas mais corajosas do que eu pularam o fosso e subiram para o gramado. Elas foram generosas, buscaram as placas de publicidade e as colocaram sobre o fosso, montando uma ponte para quem ainda estava na Coreia”. O hoje presidente subiu ao campo para comemorar junto com centenas de outros torcedores: “Tinha que levar uma recordação. Estava todo mundo indo para as redes. Eu fui até a goleira do placar, consegui um pedaço para mim e levei para casa”, lembra o presidente, segurando o “troféu”.Porém, o pedaço de rede jamais tinha sido usado. Estava guardado. No dia do Gre-Nal decisivo deste ano, no Beira-Rio, Barcellos buscou o objeto adormecido e colocou no bolso. “Vai dar sorte”, pensou. Quando chegou ao hotel usado como concentração pelo clube, encontrou Roger caminhando de um lado para outro, em busca das palavras que seriam ditas aos jogadores na palestra. Contou o episódio vivido tantos anos antes e como guardava o pedaço de rede como um troféu. Juntos, olharam imagens daquela comemoração de 1991 no YouTube e o assunto morreu por alguns minutos.O técnico pensou um pouco mais e interpelou o presidente mais uma vez: “Presidente, o senhor me empresta a rede?”. Barcellos colocou a mão no bolso. “Me devolve. Quero que esteja comigo durante o jogo”, respondeu. E assim foi feito. Roger usou a relíquia na palestra, mostrando aos jogadores, muitos deles acostumados a títulos muito maiores, que o Gauchão era importante. O pedaço de rede, guardado há mais de 30 anos, era a prova cabal da relevância da conquista.
